Tranco a ti, cruel algoz, na mais encerrada parte de mim, e te faço então, o que por anos me fizeste sentir...
Vais penar por anos sem fim, numa masmorra em penumbra onde das paredes úmidas escorrem lágrimas que nunca cessam.
Sensações de frio e calor extremos irão aparecer do nada e sem saber por que, irás sentir medo e contentamento.
Teus olhos te enganarão e terás visões mil... Rostos, mãos, olhos, e bocas confusas a chamar teu nome e por todos os nomes que poderias ter, na fusão de traços alheios.
Vez ou outra sentirás a alegria do encontro das almas, mas como numa trágica separação, ironicamente te serão tirados todos os prazeres do toque, pois enclausurado haverás de ficar e saberás bem o porquê.
Nem por um instante há de ficar sem inalar um cheiro peculiar e jamais esquecido, aquele cheiro que mesmo misturado a outros não se confunde...
Colecionarás livros rabiscados, com páginas arrancadas e com declarações que vão ser pra sempre teu hino e teu conforto.
E o frio de estar só será tanto, que invadirá teu ventre e transbordará por tuas mãos e pés suados, frios de dar medo – por tal e sempre o mesmo medo teu agora fiel companheiro.
Igualzinho ao que fizeste por mim, dormirá para ver que o melhor de ti é sonho, e ainda acordado sonharás.
Flashes psicodélicos invadirão teu chão, e abismos se abrirão para te incitar ao nada, e abrirás mão ao apego do chão.
Vais ouvir cada música dedicada, cada poema recitado, cada frase... E todas as palavras ditas em declarações serão teu único alimento, e delas irás, em vão, sobreviver.
Com o tempo, teu lerdo amigo, avidamente verás os estragos das horas para quem a vida inteira esperou, e serás um e serás mil, mescla de mil faces numa configuração ilógica. E nunca mais voltarás a ser o que um dia foi.
Só assim, quem sabe, a vida me possa fazer justiça...
(Cibelly Araújo)