Que relutem céus e estrelas; que gritem, releguem ou redigam e os corações ensandecidos de paixão ainda lhes prescrevem em falsas promessas de amores, com realces de alta intensidade, sob reflexos iniciais de vaidades e fantasias que se espargem como se fossem eternos aconchegos sobre mares de rosas. Nesse momento as pessoas se perdem e se doam contaminadas na mais pura tentativa de identificação de um amor que, às vezes, nem resistirá a tantas palavras incertas, beijos calados e realidades outras que se abrem, para reproduzir-se desilusão. E como foi dito em versos e canção, "são as trapaças da sorte, são as graças da paixão, pra se combinar comigo tem que ter opinião. São as desgraças da sorte, são as traças da paixão, quem quiser casar comigo tem que ter bom coração...", fragmentos de Cacaso e Suely Costa, interpretados pela recém chegada ao cenário artístico brasileiro, embora já considerada de cara, Simone, ai pelos tempos de 1977, que para uns era de muita acomodação e para outros de muita inquietação, por não concordarem com aquele triste modelo decretado por via de força, para o Brasil, que se queria livre, diferente. E em meio aquele reboliço todo que de tanta estupidez marcou um tempo e, que, até parecia querer perdurar; onde, apesar de uma censura ensandecida, a arte de modo geral produziu como nunca, especialmente música e teatro. Sabem-se lá quantos homens se infiltraram para o cumprimento de ordens de truculentos poderosos sobre guardados pelo manto do poder? Quantos mercenários foram pagos com dinheiro do povo para calar a vida do próprio povo que não comungava com tão rudimentar "regime"? E quantas vidas ceifadas, inocentemente, por simples falta de adequação aquilo que chamavam de "regime", por desacato ou não as suas ordens malditas? Difícil de apontar em termos quantitativos, porém relatos oficiais nos dizem de mercenários latino-americanos e europeus, infiltrados.
Mercenário que se origina no latim mercenariu (mercê = comércio), é o nome pelo qual é chamado aquele que só faz alguma coisa por um soldo ou pagamento. Esse termo também designa aqueles soldados que lutam objetivando o pagamento ou a divisão dos despojos, sem ideais ou fidelidade a um estado ou nação. Exemplo, soldados contratados em outros povos para lutar na defesa dos interesses alheios são instituto antigo. Na China, a existência de mercenários esteve ligada ao processo de formação do estado unitário, durante os séculos IV e III a.C.; tropas mercenárias foram oriundas das disputas entre grandes feudos, formando o núcleo e a mentalidade dos exércitos que se formaram em seguida, na dinastia Na. No Egito Antigo eram encontrados mercenários líbios, para a guarda das fronteiras. A Grécia os possuía, nas tropas das cidades e mesmo soldados gregos eram encontrados pelos persas. Em Cartago, as revoltas das tropas mercenárias levaram a derrota da importante colônia fenícia, durante o governo Amilcar Barca. A história foi romanceada por Gustave Flaubert, na obra Salammbô.
Contudo, apesar de se detectar com maior ênfase nos meios de lutas entre nações, a figura do mercenário, secularmente aparece noutros segmentos diferenciados, inclusive por muito nos meios familiares. Entretanto, é, também, nas relações amorosas que um ou outro caso é verificado. E muito mais nos dias presentes em que o materialismo evidencia-se com prováveis conseqüências do capitalismo que repousa, soberanamente sobre todos que compõem a sociedade contemporânea. Mas, como dito, o mercenário também tem fertilizado paixões alucinantes e amores tantos, enquanto lhe interessa. Embora, alguns mercenários, homens ou mulheres, consigam firmar relações para uma vida inteira, especialmente aqueles ou aquelas que vislumbram amparo (segurança), porém, há aqueles ou aquelas que vislumbram muito, além, e ficam pouco, não conseguem dar a sustentação necessária à relação se não for por "dinheiro visível", e preferem ir embora levando o seu. Independente, porém existem casos muito comentados pelos desvelos e dedicações as pessoas "amadas", atitudes que findam por acobertar o mercenário de suas reais intenções. E são inúmeras às vezes em que os corações mercenários conseguem fazer destacar as relações vivendo grandes amores, e até são eternizados enquanto outros se vão de repente sem sequer serem notados, especialmente pela conseqüência da gana demasiada do "material" que um ou outro possui na relação. Se não consegue ali, sai em busca de outra relação que possibilite. Sabe-se mesmo é que os corações mercenários são especialistas em apaixonar alguém e com muita destreza. Ao contrário de tudo, os corações desejados por esses corações mercenários, às vezes, nem se apercebem do tal interesse que o interessado mantém muito distante do amor verdadeiro que pretendem ou sonham. Mas tocam em frente vacilantes, porém apaixonados ou apaixonadas por meras decisões.
Mas nada é de se estranhar numa cultura mundial diversificada onde, alguns países de cultura muito arcaica, ainda praticam o mercenarismo, oficialmente, através do dote, já na entrega da mão de um filho ou filha, para o casamento. Ideal mesmo é quando se encontra a pessoa certa, na hora certa e no lugar certo, sem interesses vis; aquela pessoa que chega e invade a vida de qualquer um com as chaves que fazem escancarar sentimentos, mutuamente do coração e da alma, para uma vida a dois.
(Paulo Félix)
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